quarta-feira, 6 de janeiro de 2016

Dias Inacabados


Depois de 06/10/2015 os dias que viriam seriam uns dos mais difíceis que eu iria enfrentar em minha vida.
Foram mesmo muito difíceis, pareciam que nunca iriam se acabar, por mais que me esforça-se ou tentava pensar em outra coisa era praticamente impossível me concentrar. Foram praticamente dias de “terror”, dias que nunca imaginei passar por essa situação, eu andava pisando no vácuo, com passos lentos, nem me alimentava direito, até tinha fome mas não a vontade de comer.
Quando eu via meu filho eu pensava tanta coisa, eu abraçava ele e o beijava (claro q ainda faço isso rs...) eu tive medo em não vê-lo crescer, não se formar, não casar etc.. Se damos muito bem e sei que sou muito importante na vida dele.
Pensei em desistir de tudo.
Quase parei a faculdade, olha que eu estava bem cursando o 6º Semestre em Engenharia Civil, acabei perdendo algumas aulas e nas que eu frequentava eu na verdade “não estava lá, estava muito longe”.
No emprego então quase pedi demissão, tudo o que eu fazia parece que me aborrecia, tanto que nunca em minha vida profissional nunca fui chamado atenção se quer, mas naqueles dias “ganhei” duas advertências por bobeira/distração minha, o gerente com o supervisor me chamou para conversar, me questionaram o porquê da mudança de meu comportamento, disseram q confiavam muito em meu serviço mas naqueles dias eu estava “aéreo”. Eu nem conseguia encara-los, fiquei com medo que descobrissem algo, apenas assumi o erro e disse que estava com problemas particulares e que logo iriam se resolver, mas tive vontade de pedir demissão.
Minha vontade nesses dias era de sair correndo sem rumo e sem direção, apenas correr e sumir.
E Edna, o que seria dela se ela tivesse contraído também? Na verdade não sabíamos quem tinha pego de quem, nós estávamos muito nervosos e perdidos com essa situação, ainda mais eu que já tinha recebido o diagnóstico, foi extremamente difícil. Me lembro que um dia desses Edna me disse que a “confiança tinha perdida”, nesse momento fiquei calado, sem reação, eu já não tinha nem chão, apenas baixei a cabeça e pensei: Como e quando?
Nesse dia já sabíamos que Edna não tinha pois o exame dela deu negativo. Foi um “alivio” porque meu maior medo é que ela tivesse pego de mim, fiquei apavorado na hora porque pensei muito em seus pais que são pessoas inesquecíveis.
Logo então sabendo que Edna não tinha me veio uma dúvida em mente: Se Edna não tem como eu tenho?
Por meio dessa dúvida fiz uma investigação para que possivelmente eu tentar entender de onde eu teria contraído o HIV.
As pessoas que procurei, tive que contar o fato e não acusei ninguém, pelo contrário, alertei cada pessoa a procurar o CTA e para que se protejam sempre.
A primeira pessoa q procurei foi a mãe de meu filho que na época fazia um ano que estávamos separados novamente (rs...), mas não vou entrar em detalhes porque foi meio complicado do jeito que ela me tratou, mas felizmente ela é soronegativa.
A Segunda pessoa eu tinha me relacionado em uma época que morei com meu pai, fazia mais de um ano que não se víamos, foi muito difícil para mim levar essa notícia para essa pessoa porque hoje ela está namorando, mas tive que alertá-la, ela ficou apavorada, mas alguns dias depois ela foi no CTA fazer o teste junto com o namorado, e felizmente nenhum deles tem e recebi um apoio dela, as vezes ela me envia mensagens perguntando como estou e como anda o tratamento.
Teve mais uma pessoa que procurei, porque essa morei com ela por um ano depois que me separei da mãe do meu filho, essa pessoa levei vários dias até falar com ela. Quando consegui, novamente não foi fácil porque tive que falar toda a história novamente etc..etc. etc.... Ela me disse que é doadora de sangue a alguns anos e esse ano ela doou, então se tivesse dado alguma alteração no sangue dela, o pessoal que faz a coleta já teria lhe avisado, mas confesso que fiquei “com um pé atrás” com ela, mas pelo menos fiz meu dever de alertá-la em procurar o CTA.
No início de 2013 fiz uma cirurgia para retirada de uma pedra que estava no rim que acabou indo parar na bexiga, na época sentia dores horríveis, não sei quanto tempo levou essa cirurgia pois tomei anestesia geral.  

Depois de tudo isso fiquei muito feliz porque as últimas pessoas que convivi nos últimos anos nenhuma tem, então veio aquela incerteza do meu exame, pensei: Puxa vida, se ninguém tem eu também não tenho comentei com Edna, nós tínhamos muita esperança e certeza que aquele sangue que fizeram o exame não era meu. Ficamos muito felizes apesar de tudo.
Nesse tempo já tinham coletados novas amostras de sangue para testes mais específicos no CTA e já tinha até consulta com a médica agendada.
Em um desses dias, comentei com Edna de eu ir em outro posto de saúde para fazer o teste rápido para comprovar que eu era soronegativo porque nós estávamos muito confiantes nisso.
Até que um dia eu fui, com um pouco de medo (rs...)mas fui mesmo assim, porque havia esperança.
Na hora do teste a enfermeira me fez algumas perguntas tipo: Você está bem de saúde? Tem alguma queixa? Você está preparado para o resultado?
Respondi que sim.
Então a enfermeira fez o primeiro teste e guardei na recepção por alguns minutos, tremendo mas ao mesmo tempo com aquela esperança que o teste daria negativo.
Até que a enfermeira me chamou, ela pediu para refazer o teste, só que utilizando o dedo de outra mão, disse que seria só para comprovar. Eu disse tudo bem, mas na hora em que essa enfermeira pegou na minha mão para dar a picadinha percebi que ela temia muito o que na primeira vez vi que ela estava calma. Nessa hora eu já imaginava o que ela não queria me falar, então tive que aguardar mais um pouco na recepção para o resultado.
Passou o tempo e fui chamado, entrando na sala de enfermagem vi que já havia outra pessoa (imaginei que seria uma médica) mas era a psicóloga do posto. Então a enfermeira me confirmou q o teste deu positivo. Ela junto com a psicóloga conversaram muito comigo, me deram apoio, eu fiquei em silêncio por alguns minutos, chorei um pouco, até que contei para elas meu caso e que eu estava lá para fazer o teste com esperança de dar negativo. Elas me apoiaram em minha decisão porque eu tinha esperança, pediram para eu fazer o acompanhamento com o médico e o tratamento que assim eu teria uma vida normal.
Um dia depois tive a consulta com a psicóloga do CTA, comentei com ela sobre minha atitude de fazer um teste rápido em outro posto, no momento eu não entendia como eu teria contraído o HIV por isso ficava minha dúvida em relação ao meu exame, esses dias eu estava quase ficando louco.
Dias depois tive a primeira consulta com a médica do CTA, foi onde iria comprovar o HIV no meu sangue.
Me lembro muito bem como foi esse dia. Podem dizer que sou um pouco teimoso, mas ainda tinha esperanças de ser soronegativo. Digo isso não por preconceito, mas por medo, porque até aquele momento eu tinha poucas informações sobre o que seria viver com HIV.
Nesse dia então, antes de sair de casa, falei um pouco com Edna, disse que eu estava com medo mas ao mesmo tempo eu estava com esperanças. Ela disse que talvez iria lá também para me acompanhar mas não garantiu.
Chegando lá então, peguei a senha e aguardei minha vez.
Quando estava quase na minha vez Edna aparece, fiquei muito surpreso.
Na minha hora entrei no consultório sozinho, até chamei Edna para acompanhar mas ela preferiu ficar do lado de fora mesmo.
No consultório a Médica me atendeu super bem (aliás todos do CTA me atenderam super bem), ela conversou bastante comigo, até que começou a ver os resultados dos exames. E até que foi comprovado HIV, fiquei abalado pensei: e agora? A médica me deu muitos conselhos e palavras de conforto, nessa hora saí da sala com os resultados dos exames na mão. Edna correu em minha direção e perguntou o que tinha dado o exame, nessa hora nem consegui falar, minha voz não saia, então abracei Edna e comecei a chorar sem parar, nessa hora ela chorou também. Ela falou para mim ter calma e disse que ficaria tudo bem, ficamos um pouco no carro conversando, depois fui levá-la para o trabalho e segui para o meu também porque o dia estava apenas começando.
Eu agradeço muito a minha psicóloga por ter me encorajado a encarar o HIV de frente, me mostrou que só morre de HIV/Aids quem não se trata, quem não se cuida. Me reforçou que o HIV deixou de ser uma “doença letal”, agora o HIV se tornou uma infecção crônica, o tratamento é praticamente como de alguém que tem pressão alta ou diabete.
Agradeço muito a Edna, por ter ficado do meu lado me apoiando, dando forças nos dias mais difíceis, me ouvindo reclamar, me dando o ombro para chorar e como chorei (rs).

Mas o que seria de nós sem as Psicólogas?
Elas são as primeiras pessoas que nos mostram que a vida não acabou, aos poucos ela nos mostram que a vida continua, apenas nossa vida tomou um rumo diferente, estamos vivos.

Na próxima eu falo como está sendo meu tratamento, o CD4/Carga Viral e adicionarei informações importantes.

...Eu escolhi viver
   Abraços

...Breno...

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