Depois de 06/10/2015 os dias que viriam seriam uns dos mais difíceis que eu iria enfrentar em minha vida.
Foram mesmo
muito difíceis, pareciam que nunca iriam se acabar, por mais que me esforça-se
ou tentava pensar em outra coisa era praticamente impossível me concentrar.
Foram praticamente dias de “terror”, dias que nunca imaginei passar por essa
situação, eu andava pisando no vácuo, com passos lentos, nem me alimentava
direito, até tinha fome mas não a vontade de comer.
Quando eu
via meu filho eu pensava tanta coisa, eu abraçava ele e o beijava (claro q
ainda faço isso rs...) eu tive medo em não vê-lo crescer, não se formar, não
casar etc.. Se damos muito bem e sei que sou muito importante na vida dele.
Pensei em
desistir de tudo.
Quase parei
a faculdade, olha que eu estava bem cursando o 6º Semestre em Engenharia Civil,
acabei perdendo algumas aulas e nas que eu frequentava eu na verdade “não
estava lá, estava muito longe”.
No emprego
então quase pedi demissão, tudo o que eu fazia parece que me aborrecia, tanto
que nunca em minha vida profissional nunca fui chamado atenção se quer, mas
naqueles dias “ganhei” duas advertências por bobeira/distração minha, o gerente
com o supervisor me chamou para conversar, me questionaram o porquê da mudança
de meu comportamento, disseram q confiavam muito em meu serviço mas naqueles
dias eu estava “aéreo”. Eu nem conseguia encara-los, fiquei com medo que
descobrissem algo, apenas assumi o erro e disse que estava com problemas
particulares e que logo iriam se resolver, mas tive vontade de pedir demissão.
Minha
vontade nesses dias era de sair correndo sem rumo e sem direção, apenas correr
e sumir.
E Edna, o
que seria dela se ela tivesse contraído também? Na verdade não sabíamos quem
tinha pego de quem, nós estávamos muito nervosos e perdidos com essa situação,
ainda mais eu que já tinha recebido o diagnóstico, foi extremamente difícil. Me
lembro que um dia desses Edna me disse que a “confiança tinha perdida”, nesse
momento fiquei calado, sem reação, eu já não tinha nem chão, apenas baixei a
cabeça e pensei: Como e quando?
Nesse dia já
sabíamos que Edna não tinha pois o exame dela deu negativo. Foi um “alivio”
porque meu maior medo é que ela tivesse pego de mim, fiquei apavorado na hora
porque pensei muito em seus pais que são pessoas inesquecíveis.
Logo então sabendo
que Edna não tinha me veio uma dúvida em mente: Se Edna não tem como eu tenho?
Por meio
dessa dúvida fiz uma investigação para que possivelmente eu tentar entender de
onde eu teria contraído o HIV.
As pessoas
que procurei, tive que contar o fato e não acusei ninguém, pelo contrário,
alertei cada pessoa a procurar o CTA e para que se protejam sempre.
A primeira
pessoa q procurei foi a mãe de meu filho que na época fazia um ano que
estávamos separados novamente (rs...), mas não vou entrar em detalhes porque
foi meio complicado do jeito que ela me tratou, mas felizmente ela é
soronegativa.
A Segunda
pessoa eu tinha me relacionado em uma época que morei com meu pai, fazia mais
de um ano que não se víamos, foi muito difícil para mim levar essa notícia para
essa pessoa porque hoje ela está namorando, mas tive que alertá-la, ela ficou
apavorada, mas alguns dias depois ela foi no CTA fazer o teste junto com o
namorado, e felizmente nenhum deles tem e recebi um apoio dela, as vezes ela me
envia mensagens perguntando como estou e como anda o tratamento.
Teve mais
uma pessoa que procurei, porque essa morei com ela por um ano depois que me separei da mãe do meu filho, essa pessoa levei vários dias até falar com ela.
Quando consegui, novamente não foi fácil porque tive que falar toda a história
novamente etc..etc. etc.... Ela me disse que é doadora de sangue a alguns anos
e esse ano ela doou, então se tivesse dado alguma alteração no sangue dela, o
pessoal que faz a coleta já teria lhe avisado, mas confesso que fiquei “com um
pé atrás” com ela, mas pelo menos fiz meu dever de alertá-la em procurar o CTA.
No início de
2013 fiz uma cirurgia para retirada de uma pedra que estava no rim que acabou
indo parar na bexiga, na época sentia dores horríveis, não sei quanto tempo
levou essa cirurgia pois tomei anestesia geral.
Depois de
tudo isso fiquei muito feliz porque as últimas pessoas que convivi nos últimos
anos nenhuma tem, então veio aquela incerteza do meu exame, pensei: Puxa vida,
se ninguém tem eu também não tenho comentei com Edna, nós tínhamos muita
esperança e certeza que aquele sangue que fizeram o exame não era meu. Ficamos
muito felizes apesar de tudo.
Nesse tempo
já tinham coletados novas amostras de sangue para testes mais específicos no
CTA e já tinha até consulta com a médica agendada.
Em um desses
dias, comentei com Edna de eu ir em outro posto de saúde para fazer o teste
rápido para comprovar que eu era soronegativo porque nós estávamos muito
confiantes nisso.
Até que um
dia eu fui, com um pouco de medo (rs...)mas fui mesmo assim, porque havia
esperança.
Na hora do
teste a enfermeira me fez algumas perguntas tipo: Você está bem de saúde? Tem
alguma queixa? Você está preparado para o resultado?
Respondi que
sim.
Então a
enfermeira fez o primeiro teste e guardei na recepção por alguns minutos,
tremendo mas ao mesmo tempo com aquela esperança que o teste daria negativo.
Até que a
enfermeira me chamou, ela pediu para refazer o teste, só que utilizando o dedo
de outra mão, disse que seria só para comprovar. Eu disse tudo bem, mas na hora
em que essa enfermeira pegou na minha mão para dar a picadinha percebi que ela
temia muito o que na primeira vez vi que ela estava calma. Nessa hora eu já
imaginava o que ela não queria me falar, então tive que aguardar mais um pouco
na recepção para o resultado.
Passou o
tempo e fui chamado, entrando na sala de enfermagem vi que já havia outra
pessoa (imaginei que seria uma médica) mas era a psicóloga do posto. Então a
enfermeira me confirmou q o teste deu positivo. Ela junto com a psicóloga
conversaram muito comigo, me deram apoio, eu fiquei em silêncio por alguns
minutos, chorei um pouco, até que contei para elas meu caso e que eu estava lá
para fazer o teste com esperança de dar negativo. Elas me apoiaram em minha
decisão porque eu tinha esperança, pediram para eu fazer o acompanhamento com o
médico e o tratamento que assim eu teria uma vida normal.
Um dia
depois tive a consulta com a psicóloga do CTA, comentei com ela sobre minha
atitude de fazer um teste rápido em outro posto, no momento eu não entendia
como eu teria contraído o HIV por isso ficava minha dúvida em relação ao meu exame,
esses dias eu estava quase ficando louco.
Dias depois
tive a primeira consulta com a médica do CTA, foi onde iria comprovar o HIV no
meu sangue.
Me lembro
muito bem como foi esse dia. Podem dizer que sou um pouco teimoso, mas ainda
tinha esperanças de ser soronegativo. Digo isso não por preconceito, mas
por medo, porque até aquele momento eu tinha poucas informações sobre o que
seria viver com HIV.
Nesse dia então,
antes de sair de casa, falei um pouco com Edna, disse que eu estava com medo
mas ao mesmo tempo eu estava com esperanças. Ela disse que talvez iria lá
também para me acompanhar mas não garantiu.
Chegando lá então,
peguei a senha e aguardei minha vez.
Quando estava
quase na minha vez Edna aparece, fiquei muito surpreso.
Na minha hora
entrei no consultório sozinho, até chamei Edna para acompanhar mas ela preferiu
ficar do lado de fora mesmo.
No consultório
a Médica me atendeu super bem (aliás todos do CTA me atenderam super bem), ela
conversou bastante comigo, até que começou a ver os resultados dos exames. E
até que foi comprovado HIV, fiquei abalado pensei: e agora? A médica me deu
muitos conselhos e palavras de conforto, nessa hora saí da sala com os
resultados dos exames na mão. Edna correu em minha direção e perguntou o que
tinha dado o exame, nessa hora nem consegui falar, minha voz não saia, então
abracei Edna e comecei a chorar sem parar, nessa hora ela chorou também. Ela falou
para mim ter calma e disse que ficaria tudo bem, ficamos um pouco no carro
conversando, depois fui levá-la para o trabalho e segui para o meu também porque
o dia estava apenas começando.
Eu agradeço
muito a minha psicóloga por ter me encorajado a encarar o HIV de frente, me mostrou
que só morre de HIV/Aids quem não se trata, quem não se cuida. Me reforçou que
o HIV deixou de ser uma “doença letal”, agora o HIV se tornou uma infecção crônica, o tratamento é praticamente como de alguém
que tem pressão alta ou diabete.
Agradeço muito
a Edna, por ter ficado do meu lado me apoiando, dando forças nos dias mais
difíceis, me ouvindo reclamar, me dando o ombro para chorar e como chorei (rs).
Mas o que
seria de nós sem as Psicólogas?
Elas são as
primeiras pessoas que nos mostram que a vida não acabou, aos poucos ela nos
mostram que a vida continua, apenas nossa vida tomou um rumo diferente, estamos
vivos.
Na próxima
eu falo como está sendo meu tratamento, o CD4/Carga Viral e adicionarei informações
importantes.
...Eu escolhi
viver
Abraços
...Breno...
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