terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Trabalho com pessoas vivendo com hiv, por que não?

O caso que vou relatar agora não sei se é um caso de preconceito, mas posso afirmar com certeza se tratar de um caso de falta de informação. Tanto que nem contei ainda para o Breno, ele vai saber primeiro lendo aqui.
Sou psicóloga e atendo em uma clínica em que há várias psicólogas, tanto que nem conheço todas.
Semanas atrás, cheguei para atender uma paciente e encontrei uma psicóloga lá, a "D", nos apresentamos e ficamos conversando no consultório enquanto esperava minha paciente.
Nisso, começamos a falar de carreira, falei que sou recém formada, e que fiz psicologia com o intuito de trabalhar em clínica.
Aí a D foi falando um pouco sobre a atuação dela, que é formada a 3 anos, trabalha em clínica, principalmente com crianças e avaliação psicológica, mas que também gosta de outras áreas, como recursos humanos e me perguntou se eu tinha interesse por outra área, respondi que sim, que gosto da psicologia social, especifiquei que tenho muita vontade de trabalhar com grupos, de pessoas vivendo com hiv, câncer, idosos e outros assuntos "polêmicos"...
D logo foi tratando de falar que desses que citei só não trabalharia com hiv. Fiquei estarrecida com o comentário dela, tanto que nem quis saber o porque dela não querer.
Conversamos mais um pouco e eu me despedi para receber minha paciente.
E depois da sessão eu fiquei pensando várias coisas a respeito desse bate papo que tive com a psicóloga D.
Primeiro pensei em quando estava estudando ainda, sobre o que vimos sobre o hiv. Lembro que estudamos sobre o assunto, sobre o aconselhamento, inclusive o professor era um dos mais queridos pela turma e todos gostaram da abordagem humanista com que o assunto foi tratado.
D se formou em outra faculdade, não na mesma que eu.
Será que ela e a turma passaram por essa aula? O assunto hiv foi tratado na graduação? Ou foi visto e interpretado de modo errado?
Difícil.
Só sei que falta conhecimento. Alguém que lida diretamente com a saúde mental das pessoas deve procurar se informar sobre tais assuntos. E principalmente ser livre de todo e qualquer preconceito. Não nos cabe julgar, somente acolher a dor do outro e auxilia-lo a traçar o melhor caminho para fazer as escolhas certas em busca da felicidade.

Beijos.
Edna.



Dias inacabados

Esse relato é de algo que me aconteceu nos primeiros dias após receber o diagnóstico, foram dias intermináveis, “torturosos” eram inacabáveis.
A todo momento eu pensava que poderia morrer a qualquer instante, ao mesmo tempo pensava que era mentira por ter acontecido comigo, pelo que Edna não havia pego porque preservativos era eventualidade de usarmos.
Aqueles dias eu estava na época de negação somado à tristeza etc.
Em um dia daqueles tomei uma decisão de ir ao um outro posto de saúde fazer o teste rápido de HIV para eu ter a certeza que tudo aquilo era um engano (pelo menos era o que eu pensava). Pedi opinião de Edna sobre isso e ela me apoiou porque via meu sofrimento, via que eu estava perdido, disse a ela que iria apenas em busca de uma segunda opinião (se é isso que posso dizer). Edna me apoiou mesmo sabendo que já era a realidade, mas não quis me contrariar no momento, ela apenas estava do meu lado e nas minhas decisões, assim até como é hoje.
Bom, era uma sexta-feira ensolarada com muito calor, cheguei no posto e disse que queria fazer o teste, a atendente do balcão era uma amiga minha de infância que a muito tempo eu não a via, nos cumprimentamos coisa e tal e ela pediu para aguardar.
Aguardei uns 5 minutos e fui chamado.
Lembro que era uma enfermeira de cabelos pretos lisos que não passava dos 30 anos (acho rs), na sala ela me perguntou se eu já tinha feito esse teste em outro posto eu disse que não (rs) me explicou como seria o teste e tal, nesse momento ela estava calma e com a agulha furou meu dedo sem nenhuma dificuldade, depois pediu para eu aguardar na recepção uns 10 minutos que logo me chamaria de volta para mostrar o resultado.



Passaram uns 20 minutos contados no relógio, eu suando devido ao calor e um pouco nervoso também, até que fui chamado.
Entrei na sala e a enfermeira disse que deveria refazer o teste, disse que deu um “probleminha” com o coletor, reparei que ela tremia muito e estava um pouco descontrolada, nervosa, acho que ela estava querendo chorar ou com medo, não sei dizer ao certo, nessa hora já imaginei o resultado, como ela tremia muito que até fiquei com medo dela machucar meu dedo ou não conseguir fazer a segunda coleta. Até que ela tirou o sangue necessário e fui novamente para a recepção aguardar mais uns 20 minutos mais ou menos.
Passando o tempo ela me chamou.
Quando entrei na sala tinha mais uma pessoa, me cumprimentou dizendo que era psicóloga do posto.
Em primeiro lugar ela me perguntou se eu estava bem. Respondi que sim.
Depois me perguntou se eu sabia o que era DTS e se eu já tinha feito um exame daqueles outra vez. Disse que sim e que não.
Em seguida ela junto com a enfermeira me deram o resultado do exame, disseram que sou portador do HIV.
Nesse momento fiquei um pouco em silêncio, olhei para a enfermeira, depois para a psicóloga, abaixei a cabeça, fechei os olhos e pensei: Isso é real, aconteceu mesmo, mas não vou morrer disso, quero viver muito ainda!!!!!
A enfermeira perguntou se eu estava bem. Nessa hora eu já tinha derramado algumas lágrimas, então levantei a cabeça, olhei para elas e disse que sim, disse que estava bem.
Eu agradeci a elas pelo tempo que estiveram comigo, imagino que não seja fácil dar essa notícia.
Antes de eu me levantar disse a elas porque eu estava lá, disse que eu estava “perdido” e que logo mais nos próximos dias eu começaria o tratamento com os antirretrovirais.
Nesse momento foi que percebi que não adiantava eu querer fugir, não adiantava querer mentir, negar etc. tudo o que eu faria a partir daquele momento de algum modo isso faria “parte de minha vida”
A única dificuldade de hoje que vejo é o medo e o preconceito das pessoas, pois o desconhecido amedronta; estou aqui vivendo a cada dia igual a todos: com sonhos, desejos, fome, sede, rindo, chorando, amando etc...


Abraços
Breno

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

"Dezembro vermelho"

Me chamou atenção a escassez de campanhas voltadas a luta contra o hiv/aids, já que agora é "Dezembro vermelho".

Vi cartazes apenas nos terminais de ônibus, que recebiam tímidos olhares das pessoas, como se aquilo não existisse. 

Temos setembro amarelo, em prevenção ao suicídio. Outubro rosa em conscientização ao câncer de mama. Novembro azul em conscientização ao câncer de próstata. 

Todas esses meses vemos as instituições, lojas, prefeitura e etc realizando campanhas, querendo mostrar as pessoas a importância da luta contra tais acontecimentos. Todos usam laços das cores correspondentes ao mês, mas quando chega dezembro ninguém quer usar o laço vermelho.

Hiv/aids ainda é tabu para a sociedade, falta conhecimento!

Ninguém tem hiv porque quer, as pessoas vivendo com hiv não são sujas, doentes e nem armas químicas ambulantes. São seres humanos com sentimentos como todo mundo, que enfrentam grandes batalhas e muitas vezes "matam um leão por dia" para estar onde se encontram.

E se você tem medo é bem simples, comece respeitando as pessoas com hiv, pois você provavelmente já teve contato com um soropositivo em sua vida e muitas vezes nem sabe. 

Mais amor, respeito, empatia e carinho com o próximo!

Eu uso, e você?

Beijos,
Edna