quinta-feira, 7 de janeiro de 2016

Depois do teste rápido, a descoberta: soronegativa

E depois do dia 06/10...
Cheguei em casa não conseguia dormir, tinha fome não conseguir comer...Estava muito preocupada com o Breno e também tinha a certeza que também tinha contraído HIV. Tive medo de ter sido eu que tivesse passado para ele, mas isso nunca saberíamos.
Acho interessante esclarecer, nós usávamos preservativo, porém não o tempo todo, ás vezes usávamos o método do "coito interrompido" e ás vezes colocava a camisinha só nessa hora. Eu tinha medo de engravidar, por isso esses "cuidados". 
Então no dia 07, acordei, tomei café forçada, pois meus pais estavam por perto e logo depois iria na academia e não iam deixar eu sair sem comer. Mas não comentei nada do que estava acontecendo, apesar da minha vontade de agarrar a minha mãe pedindo colo e ouvir dela o que ela sempre me diz que pra tudo na vida tem uma solução... Engoli o choro, fui para a academia, fiquei uns 15 minutos e logo voltei pra casa, sabia que todo mundo já tinha ido trabalhar. Tomei banho me arrumei, peguei o ônibus e fui para o CTA. Eu já havia passado perto do CTA, e tenho um amigo gay que faz exames frequentemente lá e já havia me contado como funciona.
Cheguei no CTA totalmente perdida, vi uma senha nem li para que era já fui pegando, olhei para as pessoas que estavam lá e fiquei imaginando: "será que todos aqui tem HIV?" vi um senhor muito magro e já me passou pela cabeça se ia ficar daquele jeito também. Falando agora vejo quanto preconceituosa eu fui, obviamente que nem todos que estavam lá tem HIV, aquele ambulatório atende diversas pessoas com diferentes doenças infecciosas e outras que estavam lá pelo mesmo motivo que eu fui, para saber se tem algo para assim buscar um tratamento. Olhei vi o Breno, corri na direção dele, abracei, chorei e ele chorou, a enfermeira ficou nos olhando e eu vi a tristeza no olhar dela em ver aquela cena... senti muito medo, me senti morta em vida. Breno disse que ela já estava a par da nossa história e então ela pediu que a acompanhasse enquanto ele foi para colher sangue. Na sala da enfermeira ela perguntou como eu estava, disse que estava péssima, desesperada, e foi aí que ouvi algo que já havia dito, que já sabia mas que era necessário ouvir "Edna hoje em dia não se morre mais de AIDS/HIV, é mais fácil você sair na rua e morrer atropelada, ter um infarto ou qualquer outra coisa, mas se fizer o tratamento de AIDS você não vai morrer e também não é garantia que você também adquiriu o vírus, você precisa fazer o teste". 
Sai da sala da enfermeira e logo o Breno apareceu, ela avisou que me levaria fazer o teste rápido e ele iria ver a Psicóloga. A secretária fez meu cadastro, colocando meu nome e o bairro onde moro, sem muitas identificações (sim é sigiloso) então pediu para aguardar. Sentei num sofá e peguei uma revista, mas estava tão nervosa que folheava mas não lia nada, não conseguia me concentrar. Logo a psicóloga me chamou, no consultório me perguntou porque queria fazer o teste, contei toda a história e ela me explicou que poderia sim dar positivo como também negativo, que não necessariamente eu teria contraído, pois existem vários fatores que temos que levar em consideração. Aguardei mais um pouco e outra enfermeira me chamou, furou a ponta do meu dedo com uma agulhinha que tinha um plastico roxo no qual ela segurava, engraçado que mesmo sendo toda "furada" tendo brincos, piercings e tatuagens eu não gosto de ver agulha e prefiro sempre não olhar o ato de furar, mas nesse dia eu olhei claramente ela espetando meu dedo, aquele sangue todo saindo, aquele ato poderia mudar muitas coisas na minha vida, através dele receberia meu diagnóstico, eu tinha certeza que estava com HIV, tentava não pensar e ficar calma mas a vontade era de sair correndo e gritando sem rumo até morrer de tanto cansaço para poder fugir de tudo isso, fugir da minha realidade... mas, enfim, pegou o sangue do meu dedo com um instrumento tipo um canudinho e colocou em um buraquinho numa plaquinha branca. Limpou com álcool, colocou um curativo e voltei a aguardar na sala de espera, fiquei uns 20 minutos no sofá aguardando e foram os minutos mais longos de toda a minha vida, o desespero nem consigo descrever... a secretária perguntou se eu gostaria que o Breno fosse me encontrar, disse que sim. Nisso vi a psicóloga saindo da sala da enfermeira com uma pasta verde em mãos, fiquei imaginando, seria mera coincidência ou a pasta verde são para os positivos? Imaginava mil e uma coisas, esses 20 minutos pareciam mais 20 anos, a psicóloga fez sinal com a mão de positivo e entrou na recepção, pensei: positivo de que deu positivo ou positivo porque deu negativo? mas poxa, ela sorria, não ia rir da desgraça alheia, primeiras coisas que aprendemos na faculdade de psicologia é ter empatia, mas naquele momento como boa observadora que sou esse meu sentido estava ainda mais aguçado somado ao meu desespero pelo resultado, e logo depois a psicóloga chamou novamente ao consultório. Com muita calma tirou a folha da pasta, colocou na mesa empurrando pro meu lado: "Olha só, deu negativo, não tem HIV", eu quase não acreditei, chorei muito, nem conseguia falar direito, depois ela me perguntou se eu continuaria com o Breno, pois se fosse continuar poderíamos ter uma relação normal se ele se tratasse corretamente, mas que também nem eu nem ele merecíamos ficar juntos por dó ou culpa, portanto que era para eu pensar no que faria a partir daquele diagnóstico. Eu realmente não sabia responder isso, só o que sabia era que não ia abandona-lo. Ela me explicou que deveria repetir o teste, também um teste completo e confesso que por medo não fiz até hoje, mas sei que é importante para nós. Conversamos um pouco sobre sua profissão e minha futura profissão e logo me despedi, agradeci muito sua atenção e lhe desejei mentalmente muitas coisas boas, não somente a ela, mas todos que trabalham no CTA  pois o acolhimento que tive naquele local nunca tive em nenhum lugar, é exemplar.

Breno estava me esperando no sofá, com o olhar perdido, logo me viu e já foi abraçando, sentei do lado dele e disse que tinha dado negativo, ele me agarrou, chorava e ria, ficou feliz com a notícia, a verdade é que tanto eu quanto ele tínhamos esperança do exame dele estar errado e tudo isso virar só um sonho ruim. Mostrei o papel com o resultado do exame, esse que olhei muitas e muitas vezes nos dias seguintes...
Saindo do CTA no carro ele chorava muito, dizendo que tudo iria mudar, eu disse que estaria com ele, mas ele estava frágil e inseguro, isso somente com o tempo ele perceberia, somente com o passar dos dias e ao ver que estava ao seu lado. Na realidade ele tinha medo de ser abandonado, eu também tinha esse medo, mas mesmo que fosse outra pessoa, até mesmo um amigo/amiga minha atitude seria a mesma.

Mas, mesmo com o meu resultado negativo eu fiquei muito abalada nos dias seguintes, por tudo que aconteceu, pelo Breno, quando gostamos de alguém tudo que queremos é ver a pessoa bem e todo o sofrimento dele me fazia sofrer também, eu tinha muita esperança daquele sangue não ser dele, tanto que ele foi fazer um teste rápido que infelizmente deu positivo, mas não fez com que perdêssemos as esperanças e sabia que positivo ou negativo estaria com ele.

Sei que preciso repetir esse exame e tenho consciência que pode ser positivo, apesar de saber que é realmente negativo. Não tenho medo de ficar doente, tenho medo do preconceito e de magoar meus pais, decepcioná-los e perder sua confiança...
Mas acredito que vários fatores contribuíram para não ter contraído: Breno não gozava "dentro", nunca fizemos anal que é uma das formas mais fáceis de contágio, sua carga viral era baixa, e também existe uma mutação que alguns europeus principalmente alemães podem ter que faz com que não contraiam o vírus que é exatamente minha descendência.
Só o que sei com certeza é que agora sim nos cuidamos, usando preservativo em 100% das relações.

Sei também que o HIV não mata ninguém, o que mata é o preconceito das pessoas, por isso é muito importante buscar conhecimento sobre esse tema, pra poder compreender e aprender que não há motivos para descriminar o soropositivo, que fez muito bem a ambas as partes dar apoio e carinho. 

A todos que escolheram viver: Beijos e abraços da Edna!

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