sábado, 26 de dezembro de 2015

O dia seguinte

07/10/2015, um dia que jamais me esquecerei...

Bom, na verdade não sei se era “o dia seguinte” porque a noite anterior foi muito longa, uma das maiores que tive, nem dormi direito. Minha vida inteira passou em minha mente naquela noite, lembrei de coisas boas que torci para não acabar, também de outras que nunca desejei ter vivido e muito menos ter presenciado. E essa notícia do diagnóstico, queria acordar desse pesadelo, mas eu estava muito bem acordado e não era nenhum tipo de sonho ou pesadelo, era real.
Estava com uma sensação que tudo tinha acabado, uma sensação de vazio me pegou naquela hora, sonhos que ainda não tinham sido concluídos que foram interrompidos, conversas não terminadas socialmente, desejos interrompidos.
Mas no fundo deste Tsunami que me pegou, eu ainda tinha esperança, esperança que aquele exame de sangue estivesse errado. É engraçado, a gente acha que isso nunca irá nos acontecer, isso nunca irá me pegar, sempre achamos que é com outra pessoa, com um vizinho, com alguém muito distante de nós.
Na noite anterior por volta das 23hs eu e Edna falamos um pouco pelo celular, disse a ela que na manhã seguinte iria no CTA de nossa cidade, ela comentou comigo que também iria.
Chegando lá peguei senha e aguardei minha vez. Essa foi minha primeira vez que fui naquele posto de saúde, já tinha passado perto, mas nunca tinha entrado. Olhei para um lado e para o outro, não tinha ninguém conhecido, até que chegou minha vez, então me dirigi até o balcão andando lentamente como se estivesse andando no vácuo (como andei nas últimas horas).
Me lembro que quando cheguei ao balcão entreguei a guia médica com o resultado do exame e comentei que a Enfermeira responsável já estaria me esperando, que realmente estava mesmo.
A enfermeira que me atendeu foi muito atenciosa, na verdade todos que me atenderam foram muito atenciosos, devido ao bom treinamento e situações que eles enfrentam dia a dia, portanto o nível de experiência deles ajuda muito, não tenho nada do que reclamar nessa parte.
Eu estava completamente “perdido”, ela percebendo meu estado, tentou me acalmar por várias vezes, me explicou o que é o HIV com a diferença da Aids de uma maneira tranquila. Sei que conversamos um pouco e ela foi fazendo algumas perguntas e anotando algumas coisas.
Eu olhava de um lado para outro e me perguntava: O que estou fazendo aqui? O que aconteceu comigo?
Depois de um tempo com a enfermeira, ela marcou alguns exames que eu teria que fazer para dar início ao tratamento, nesse momento ela me encaminhou para a psicóloga, lá mesmo em uma sala ao lado.
Quando saímos da sala em direção a psicóloga, eu comentei com ela que Edna estava para chegar. Nessa hora olhei em direção à entrada, vi Edna entrando (perdida também) sem saber o que estava fazendo lá.
Nessa hora meus olhos encheram de lágrimas, acenei para ela, ela me viu, deu um sorriso tipo “sem graça”, mas entendo porque ela estava muito preocupada, aliás estávamos!!!
Nessa hora ela veio em minha direção e nos abraçamos bem forte nessa hora, mesmo sem saber a real eu disse a ela que ficaria tudo bem. Então ela foi encaminhada ao CTA para fazer o teste onde detectaria se ela tem ou não.
Então fui para a sala da psicóloga, entrando lá ela me recebeu com um aperto de mão e um sorriso tipo “querendo dizer que tudo ficaria bem”, mas ao mesmo tempo eu pensava:
Como as coisas ficarão bem? O que acontecerá com nós a partir de agora? Como viveremos? Até quando viveremos? Eu estava com muito medo naquele dia, não posso negar, ainda tenho um pouco.
Na sala com a psicóloga, uma das perguntas que ela me fez lembro-me que ela perguntou se eu estava bem. Acho que é para saber se eu estava ciente da situação no meu estado psicológico.
Eu disse que não, nada estava bem! Disse que eu estava perdido sem saber o que fazer.
Falei que não sei o que aconteceu e nem sei o que irá acontecer, fiquei desesperado, comecei a chorar sem parar, pensei que iria ter uma parada cardíaca naquele momento, não tinha noção do que aconteceu. A únicas coisas que vinham em minha mente nessa hora era meu filho e a Edna. Em meio a lágrimas e desespero eu pensei muito em meu filho, hoje ele com 13 anos, quero vê-lo crescer, se formar, casar, ter filhos etc. Disse isso a psicóloga soluçando muito e desesperado, transtornado com essa situação.
Sem falar da Edna, uma pessoa que conheci no início desse ano, uma pessoa incrível que tem uma família mais incrível ainda, com alguns desentendimentos que é normal em toda família, mas tudo bem, faz parte da vida. Edna porém, como já disse: Além de ser uma pessoa incrível, ela é especial porque me ajudou em algumas coisas pessoais.
Claro ninguém é perfeito, temos nossos defeitos, mas eu e Edna somos muito ligados, temos um carinho enorme um pelo outro, uma preocupação pelo outro (sempre foi assim) ainda mais agora, mesmo não estando juntos se falamos muito, se importamos um pelo outro ainda. Acho que todo ser humano deveria se importar com o outro, assim não existiria tanta tristeza e desigualdade assim nesse mundo.
Nessa primeira conversa com a psicóloga, além de falar muito de meu filho, ele é um “rapazinho” esperto, ele já sabe o que é certo e o errado, mas manhoso como qualquer criança. Nos últimos anos passeamos muito por aí: Cinemas, shopping, jogamos futebol juntos (brincamos na verdade), as vezes andamos de bicicleta por aí, sem contar lugares onde conhecemos juntos como o Museu da Aeronáutica em São Carlos, Aquário de São Paulo, Interlagos (SP), fora outros eventos e passeios que fizemos... Pensei que tudo isso iria se acabar
Falei também muito da Edna, disse que nunca desejei mal a ela e a ninguém, não queria que isso acontecesse com ela, no meio às lágrimas eu disse a psicóloga que ei iria me cuidar, iria fazer de tudo para eu ficar bem, mas um dos maiores medos que eu tinha, era que a Edna fosse soropositiva. Porque ela é bem mais nova que eu, ela tem a vida toda pela frente e pais que a amam muito.
Meus maiores medos eram esses, não ter a oportunidade de ver meu filho crescer e Edna se formar e exercer a profissão que tanto sonhava. Também me importo comigo claro, muito. Mais me preocupo mais com as pessoas que vivem ao meu arredor, quero que elas fiquem bem sempre.
A psicóloga aos poucos tenta me acalmar, me orientou aos poucos, falando sobre os tratamentos de hoje que são muito melhores do que antes, a medicina avançou muito nessa parte, disse também que terei toda a assistência que irei precisar.
Depois de um tempo que me acalmei um pouco ela me perguntou se eu queria me encontrar com Edna naquele momento. Quando ela perguntou isso uma lágrima escorreu, senti um aperto no coração, não sei se era medo ou outra coisa, só sei que nem consegui falar, apenas balancei a cabeça concordando.
Então, subindo as escadas em direção ao CTA degrau a degrau, torcendo e rezando muito para que Edna fosse soronegativa, com uma sensação estranha que não sei explicar corretamente, apenas sentia algo estranho, senti um vazio, me senti só nesse mundo tão grande mas ao mesmo tempo tão pequeno.
Cheguei ao CTA q procurei por Edna, mas no não a vi, então me sentei numa poltrona próximo a uma sala que provavelmente ela estaria. Várias coisas passaram pela minha mente nesse momento, uma das coisas que pensei é que ela nunca mais iria querer olhar na minha cara, outra dela ser soropositiva. Eu estava ficando louco para encontrá-la independente do resultado, nem sabia o que iria dizer a ela caso fosse positiva, só sei que iria ficar do lado dela em tudo que ela precisasse.
Depois de um tempo ela saiu de uma sala, veio em minha direção, eu gelei quando olhei para ela, ela sentou do meu lado e disse que é soronegativa, fiquei um pouco aliviado, se abraçamos bem forte por algum tempo, chorei muito, disse a ela que fiquei feliz, mas ao mesmo tempo triste por mim, mas eu disse que iria me tratar corretamente, o mais importante naquele dia é que ela é soronegativa, mas ela teria que voltar a fazer o teste para confirmar o exame pelo menos uma vez por mês durante 6 meses. Ela disse que ficaria do meu lado e me apoiaria muito.
Depois disso fomos embora um pouco mais calmos, um pouco porque eu sabia que minha jornada estava apenas tomando um rumo um pouco diferente, a enfermeira e a psicóloga que me atenderam me explicaram que poderei ter uma vida normal como qualquer pessoa.
E o tratamento seria essencial para minha vida junto com os medicamentos que só depois dos resultados dos exames eu saberia qual ou quais eu iria tomar.
Essa parte dos medicamentos fica para a próxima, porém é extremamente importante.
Eu vi que a terra não parou, a vida não acabou, o tempo não para.
Existe esperança.

Abraços...

...Breno...

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