quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

06/10/2015 - Os dias nunca mais serão iguais.

Era um dia normal, como todos os outros, acordei, me arrumei, fui trabalhar, conversei com o Breno pelo celular como de costume, sem saber que no final do dia receberia uma notícia no mínimo perturbadora.
Lembro que estava em uma farmácia, quando o Breno disse que já havia chegado na faculdade e que estava me esperando no carro, não desconfiei de nada diferente já que era de costume conversarmos no carro, terminei minha compra e fui.
Entrando no carro já vi que estava acontecendo alguma coisa com ele, então ele foi dizendo que tinha algo para me falar, fiquei preocupada, pensei no filho dele, até mesmo na ex mulher, mas não, era ele mesmo que estava com algum problema... Disse que o que iria me falar poderia mudar tudo, minha vida e a dele, fui ficando cada vez mais assustada, ele me perguntou se eu descobrisse que ele estava doente se ainda gostaria dele, eu nem consegui responder, comecei a me irritar e pedi para ele falar logo, só que a voz dele não saia, ele estava perdido, desesperado, só tirou um papel do porta luvas e eu li bem grande em letras maiúsculas e negrito: REAGENTE PARA HIV!
Tudo comecei a girar, ele começou a chorar e eu me segurando para não chorar também, eu agarrei ele forte, como se naquele abraço eu quisesse acabar com tudo aquilo de ruim que estávamos sentindo. Naquele momento me veio na cabeça Renato Russo, o qual sou muito fã e eu disse ao Breno que ele não iria morrer por causa dessa doença igual Renato Russo morreu, que ele teria a chance de se tratar e viver normal, a verdade é que eu não sabia o que dizer, não sabia o que pensar, eu estava tão desesperada quanto ele.
Enquanto estava abraçada nele ele chorava soluçando, daí comecei a me desesperar mais ainda, pois se o Breno tem, eu também tenho, por muitas vezes não usamos preservativo. Disse isso a ele e ele disse que havia a possibilidade de eu não ter pego, mas que eu precisava fazer o exame, que o médico do posto de saúde que lhe deu a notícia havia o orientado a ir até o ambulatório especializado em doenças infecto contagiosas aqui da nossa cidade e que eu poderia ir com ele no dia seguinte. Disse que iria, mas tudo estava girando muito e eu sentia muita tontura e ânsia, falei que ele precisava ir embora, que não conseguiria assistir aula daquele jeito, ele disse para eu ir embora também, expliquei que não aguentaria ir para casa e ter que encarar meus pais sabendo de uma notícia dessas.
Breno foi para casa e eu entrei na faculdade, ainda muito tonta, com o choro entalado na garganta, prestes a explodir a qualquer momento. Entrei na sala e encontrei minha amiga que é auxiliar de enfermagem e trabalhou bastante tempo na ala dos soropositivos do hospital público daqui da cidade, disse para ela que o dever de amiga estava chamando por ela e chamei para conversarmos no corredor. Contei tudo para ela, chorando muito, ela me abraçou, enxugou as minhas lágrimas e me disse uma coisa que nunca vou esquecer:
"Edna, dentro de um hospital a gente vê muita coisa difícil, porém os pacientes soropositivos estão longe de ser desse tipo, existem muitas outras doenças que fazem sim a pessoa sofrer muito fisicamente, mas o HIV se tratado corretamente vai gerar um desconforto no começo como muita dor de barriga que pode ser um efeito colateral dos remédios, mas a vida vai seguir normalmente e se você for soropositiva não quer dizer que você é menos gente de que qualquer outra pessoa, não quer dizer que você perdeu sua dignidade e se anulou como ser humano e mulher."
Ela me explicou que existia um coquetel de remédios que davam as pessoas expostas ao vírus em um determinado período e que devíamos ir até o hospital fazer um teste e pedir por esses remédios. Saímos da faculdade e fomos até o hospital, porém lá depois de passar por uma enfermeira e uma médica e ter que explicar toda a história para ambas fui informada de que naquele local não faziam o teste e que teria que esperar até a manhã seguinte e ir até o ambulatório com o Breno. Saí de lá um pouco mais tranquila, mas pelo apoio de minha amiga, porque pela enfermeira eu logo teria um infarto, a pressão estava nas nuvens como ela mesma disse...
Falei para o Breno que estava no hospital, ele queria a todo custo saber em qual estava para me acompanhar, mas eu não quis deixa-lo ainda mais nervoso, preferi que ficasse em casa, já que no dia seguinte ambos iriamos até o ambulatório.
Eu tinha certeza que também estava com HIV, eu estava perdida, muito preocupada com o Breno que foi embora arrasado, pensei no filho dele, coisa mais linda crescendo e ficando igualzinho ao pai. E os meus pais? O que iria dizer aos meus pais? Era tanta coisa que me vinha na cabeça, um misto de tristeza e raiva, culpa, e se tivesse sido eu que passei ao Breno? Tanta coisa, tanta preocupação, mal dormi naquele dia, também não consegui comer... Queria que fosse mentira, não é, infelizmente. Depois disso os dias nunca mais foram iguais, fico pensando no quanto a vida é frágil e tanta gente mesquinha que só se preocupa com bens materiais...
No dia seguinte descobri que sou soronegativa, mas essa história fica para a próxima.

Beijos e abraços,
Edna.



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