terça-feira, 19 de dezembro de 2017

Dias inacabados

Esse relato é de algo que me aconteceu nos primeiros dias após receber o diagnóstico, foram dias intermináveis, “torturosos” eram inacabáveis.
A todo momento eu pensava que poderia morrer a qualquer instante, ao mesmo tempo pensava que era mentira por ter acontecido comigo, pelo que Edna não havia pego porque preservativos era eventualidade de usarmos.
Aqueles dias eu estava na época de negação somado à tristeza etc.
Em um dia daqueles tomei uma decisão de ir ao um outro posto de saúde fazer o teste rápido de HIV para eu ter a certeza que tudo aquilo era um engano (pelo menos era o que eu pensava). Pedi opinião de Edna sobre isso e ela me apoiou porque via meu sofrimento, via que eu estava perdido, disse a ela que iria apenas em busca de uma segunda opinião (se é isso que posso dizer). Edna me apoiou mesmo sabendo que já era a realidade, mas não quis me contrariar no momento, ela apenas estava do meu lado e nas minhas decisões, assim até como é hoje.
Bom, era uma sexta-feira ensolarada com muito calor, cheguei no posto e disse que queria fazer o teste, a atendente do balcão era uma amiga minha de infância que a muito tempo eu não a via, nos cumprimentamos coisa e tal e ela pediu para aguardar.
Aguardei uns 5 minutos e fui chamado.
Lembro que era uma enfermeira de cabelos pretos lisos que não passava dos 30 anos (acho rs), na sala ela me perguntou se eu já tinha feito esse teste em outro posto eu disse que não (rs) me explicou como seria o teste e tal, nesse momento ela estava calma e com a agulha furou meu dedo sem nenhuma dificuldade, depois pediu para eu aguardar na recepção uns 10 minutos que logo me chamaria de volta para mostrar o resultado.



Passaram uns 20 minutos contados no relógio, eu suando devido ao calor e um pouco nervoso também, até que fui chamado.
Entrei na sala e a enfermeira disse que deveria refazer o teste, disse que deu um “probleminha” com o coletor, reparei que ela tremia muito e estava um pouco descontrolada, nervosa, acho que ela estava querendo chorar ou com medo, não sei dizer ao certo, nessa hora já imaginei o resultado, como ela tremia muito que até fiquei com medo dela machucar meu dedo ou não conseguir fazer a segunda coleta. Até que ela tirou o sangue necessário e fui novamente para a recepção aguardar mais uns 20 minutos mais ou menos.
Passando o tempo ela me chamou.
Quando entrei na sala tinha mais uma pessoa, me cumprimentou dizendo que era psicóloga do posto.
Em primeiro lugar ela me perguntou se eu estava bem. Respondi que sim.
Depois me perguntou se eu sabia o que era DTS e se eu já tinha feito um exame daqueles outra vez. Disse que sim e que não.
Em seguida ela junto com a enfermeira me deram o resultado do exame, disseram que sou portador do HIV.
Nesse momento fiquei um pouco em silêncio, olhei para a enfermeira, depois para a psicóloga, abaixei a cabeça, fechei os olhos e pensei: Isso é real, aconteceu mesmo, mas não vou morrer disso, quero viver muito ainda!!!!!
A enfermeira perguntou se eu estava bem. Nessa hora eu já tinha derramado algumas lágrimas, então levantei a cabeça, olhei para elas e disse que sim, disse que estava bem.
Eu agradeci a elas pelo tempo que estiveram comigo, imagino que não seja fácil dar essa notícia.
Antes de eu me levantar disse a elas porque eu estava lá, disse que eu estava “perdido” e que logo mais nos próximos dias eu começaria o tratamento com os antirretrovirais.
Nesse momento foi que percebi que não adiantava eu querer fugir, não adiantava querer mentir, negar etc. tudo o que eu faria a partir daquele momento de algum modo isso faria “parte de minha vida”
A única dificuldade de hoje que vejo é o medo e o preconceito das pessoas, pois o desconhecido amedronta; estou aqui vivendo a cada dia igual a todos: com sonhos, desejos, fome, sede, rindo, chorando, amando etc...


Abraços
Breno

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